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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

4 séculos de medicina no Maranhão *



4 séculos de Medicina no Maranhão *.

            As comemorações dos 400 anos de Medicina no Maranhão iniciadas, em julho passado, com o I Congresso Maranhense de Medicina, organizado pela Academia Maranhense de Medicina, finalizaram, na semana passada, com o XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina e I Congresso Maranhense de História da Medicina. Estes dois últimos eventos foram promovidos pela Sociedade Brasileira de História da Medicina e pela Sociedade Maranhense de História da Medicina, fundada aqui em São Luís, no dia 28 de abril de 2011 por um grupo de professores da Universidade Federal do Maranhão.
            Se considerarmos a Medicina dita oficial, com seus profissionais preparados em instituições formais autorizadas pelo governo, podemos dizer que os 400 anos que ora são comemorados tiveram início com a chegada à Ilha Grande do Maranhão ou de Upaon-Açu, do jovem médico cirurgião francês, Thomas de Lastre, na expedição de La Ravardière.
            Os diferentes pesquisadores consultados se referem ao Dr. De Lastre como o cirurgião-mor da expedição francesa, filho de um professor de Medicina da Universidade de Paris e com destacada posição entre os fidalgos gauleses.
            Embora não tenha, nos quase três anos que passou aqui, contribuído para alterar o quadro nosológico local, ele, além de estudar as vantagens terapêuticas da nossa flora, deixou aos seus pósteros um exemplo ético ao se dedicar por mais de trinta dias, após a derrota francesa em Guaxinduba  ao tratamento dos feridos tanto patrícios quanto portugueses. Creio que, por apenas este ato, sem mover-se por qualquer preconceito, a sua memória devesse ser reverenciada pelos médicos maranhenses, num momento em que passamos por crises éticas em todo o País.
            Após a partida do cirurgião, a medicina, no novo Estado Colonial Português, passou por momentos bastante difíceis não somente pelas sucessivas epidemias de sarampão e varíola que deixavam sempre grande número de mortes, como pela falta de médicos e medicamentos além da extrema miséria que, segundo Vieira, reinava naquela época.
Por tudo isto, é importante notar que o estudo da História da Medicina não é área restrita a médicos. Compete, também, a diversos campos dos saberes que lhes dão suporte ou mesmo a qualquer pessoa que se interesse pela evolução da Arte de Curar exercida por diferentes civilizações ao longo da história humana.
Assim, no Brasil Colônia, são considerados diferentes tipos de Medicina: a indígena com o pajé, a africana com o feiticeiro, a jesuítica, a popular com o curandeiro, barbeiro, barbeiro-cirurgião, barbeiro-sangrador, barbeiro-sarjador, boticários e parteiras. Devemos considerar, ainda, a chamada medicina alternativa.
Daí o porquê da pergunta de algumas pessoas quanto à arte de curar dos índios que aqui chegaram antes dos portugueses e dos franceses se não seria também medicina. Claro que é como ainda todos os outros tipos já citados. Ocorre, no entanto, que desde a origem da Medicina atribuída aos homens do gelo ou Cro-Magnons que apareceram, na região da atual Europa, entre 40.000 e 10.000 anos a.C., sempre houve a preocupação de selecionar pessoas dentro das comunidades que fossem preparadas para a arte de curar.
Na Idade Média, esta necessidade se fortaleceu com a fundação das primeiras escolas-catedrais transformadas depois em Universidades como a de Bolonha que foi a primeira dentre muitas outras que começaram a ser criadas.
O foco, porém, do trabalho das nossas Sociedades está mais adiante. Repousa na constatação do desgastante processo que vem operando na relação médico-paciente, liame indispensável a dar suporte à confiança do paciente em seu médico para que nele se fortaleça a fé na cura do seu mal.
            É na reconquista desse valor que se mobilizam a Sociedade Brasileira de História da Medicina e todas as instituições congêneres.
            A tecnocracia, o mercantilismo e o etnocentrismo médico vêm promovendo, gradativamente, esse distanciamento entre o médico e o paciente, desde a metade do século passado quando a tecnologia do pós-guerra começou a ser utilizada, para melhoria da qualidade dos recursos médicos, principalmente, os utilizados, nas áreas de diagnóstico e terapêutica.
            Nisto se baseou também o grande êxito dos Congressos nos quais o bom debate conduzido por várias autoridades brasileiras sobre o assunto nos deram os subsídios necessários para revermos a nossa conduta e buscarmos conduzir nossos alunos dentro de uma perspectiva de que muito se tem a melhorar.
           
* Aymoré de Castro Alvim
      AMM, IHGM, APLAC.