4 séculos de Medicina no
Maranhão *.
As
comemorações dos 400 anos de Medicina no Maranhão iniciadas, em julho passado,
com o I Congresso Maranhense de Medicina, organizado pela Academia Maranhense
de Medicina, finalizaram, na semana passada, com o XVII Congresso Brasileiro de
História da Medicina e I Congresso Maranhense de História da Medicina. Estes
dois últimos eventos foram promovidos pela Sociedade Brasileira de História da
Medicina e pela Sociedade Maranhense de História da Medicina, fundada aqui em
São Luís, no dia 28 de abril de 2011 por um grupo de professores da
Universidade Federal do Maranhão.
Se considerarmos a Medicina dita
oficial, com seus profissionais preparados em instituições formais autorizadas
pelo governo, podemos dizer que os 400 anos que ora são comemorados tiveram
início com a chegada à Ilha Grande do Maranhão ou de Upaon-Açu, do jovem médico
cirurgião francês, Thomas de Lastre, na expedição de La Ravardière.
Os diferentes pesquisadores consultados
se referem ao Dr. De Lastre como o cirurgião-mor da expedição francesa, filho
de um professor de Medicina da Universidade de Paris e com destacada posição
entre os fidalgos gauleses.
Embora não tenha, nos quase três
anos que passou aqui, contribuído para alterar o quadro nosológico local, ele,
além de estudar as vantagens terapêuticas da nossa flora, deixou aos seus
pósteros um exemplo ético ao se dedicar por mais de trinta dias, após a derrota
francesa em Guaxinduba ao tratamento dos feridos tanto patrícios quanto portugueses.
Creio que, por apenas este ato, sem mover-se por qualquer preconceito, a sua
memória devesse ser reverenciada pelos médicos maranhenses, num momento em que
passamos por crises éticas em todo o País.
Após a partida do cirurgião, a
medicina, no novo Estado Colonial Português, passou por momentos bastante
difíceis não somente pelas sucessivas epidemias de sarampão e varíola que
deixavam sempre grande número de mortes, como pela falta de médicos e medicamentos
além da extrema miséria que, segundo Vieira, reinava naquela época.
Por tudo isto, é importante notar que
o estudo da História da Medicina não é área restrita a médicos. Compete,
também, a diversos campos dos saberes que lhes dão suporte ou mesmo a qualquer
pessoa que se interesse pela evolução da Arte de Curar exercida por diferentes
civilizações ao longo da história humana.
Assim, no Brasil Colônia, são
considerados diferentes tipos de Medicina: a indígena com o pajé, a africana
com o feiticeiro, a jesuítica, a popular com o curandeiro, barbeiro, barbeiro-cirurgião,
barbeiro-sangrador, barbeiro-sarjador, boticários e parteiras. Devemos
considerar, ainda, a chamada medicina alternativa.
Daí o porquê da pergunta de algumas
pessoas quanto à arte de curar dos índios que aqui chegaram antes dos
portugueses e dos franceses se não seria também medicina. Claro que é como
ainda todos os outros tipos já citados. Ocorre, no entanto, que desde a origem
da Medicina atribuída aos homens do gelo ou Cro-Magnons que apareceram, na
região da atual Europa, entre 40.000 e 10.000 anos a.C., sempre houve a
preocupação de selecionar pessoas dentro das comunidades que fossem preparadas
para a arte de curar.
Na Idade Média, esta necessidade se
fortaleceu com a fundação das primeiras escolas-catedrais transformadas depois
em Universidades como a de Bolonha que foi a primeira dentre muitas outras que
começaram a ser criadas.
O foco, porém, do trabalho das nossas
Sociedades está mais adiante. Repousa na constatação do desgastante processo
que vem operando na relação médico-paciente, liame indispensável a dar suporte
à confiança do paciente em seu médico para que nele se fortaleça a fé na cura
do seu mal.
É na reconquista desse valor que se
mobilizam a Sociedade Brasileira de História da Medicina e todas as
instituições congêneres.
A tecnocracia, o mercantilismo e o
etnocentrismo médico vêm promovendo, gradativamente, esse distanciamento entre o
médico e o paciente, desde a metade do século passado quando a tecnologia do
pós-guerra começou a ser utilizada, para melhoria da qualidade dos recursos
médicos, principalmente, os utilizados, nas áreas de diagnóstico e terapêutica.
Nisto se baseou também o grande
êxito dos Congressos nos quais o bom debate conduzido por várias autoridades
brasileiras sobre o assunto nos deram os subsídios necessários para revermos a
nossa conduta e buscarmos conduzir nossos alunos dentro de uma perspectiva de
que muito se tem a melhorar.
* Aymoré de Castro Alvim
AMM, IHGM, APLAC.