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domingo, 30 de dezembro de 2012

CENTENÁRIO DE JOAQUIM EDUARDO ALENCAR *


Dary Alves Oliveira** & Geraldo de Sousa Tomé ***.

Nasceu no município de Pacatuba, Ceará, em 18 de abril de 1912. Filho de Galileu Thaumaturgo de Alencar, ferroviário da Rede de Viação Cearense e de Noeme Eduardo de Alencar, dedicada as prendas do lar. Cursou escola pública em Fortaleza; o primário no Colégio Nogueira e no VIII Grupo Escolar de Fortaleza, concluindo o Curso Secundário no Liceu do Ceará em 1928. Ingressou por vestibular na Faculdade de Medicina da Bahia, em fevereiro de 1929, vindo a diplomar-se em 08 de dezembro de 1934. Como médico atuou em Rocca Salles, no município de Lajeado, Rio Grande do Sul em 1935, retornando ao Ceará em 1936, para trabalhar como taquigrafo da Assembléia Legislativa até novembro de 1937, quando o golpe de Estado, dado por Getúlio Vargas, fechou todos os parlamentos brasileiros, e instalou o Estado Novo. Dedicou-se então à clínica médica, atuando nos municípios de Fortaleza, Redenção e Baturité, tendo, em 1938, sido médico da Escola de Menores Abandonados e Delinqüentes de Santo Antônio de Pitaguari, em Fortaleza. Entre 1937 e 1941, lecionou as disciplinas Física, Química, História Natural e Higiene no Educandário Santa Maria e no Colégio Santa Cecília, ambos em Fortaleza. Em 1939, passou a atuar como Médico Sanitarista do Departamento de Saúde Pública do Estado do Ceará, sendo chefe do Posto de Higiene de Baturité. Em 1940, aos 27 anos de idade, foi nomeado Diretor do Departamento Estadual de Saúde, cargo mais importante da área da saúde estadual, sendo exonerado no Governo do interventor Menezes Pimentel, provavelmente por razões ideológicas política, por ser de esquerda. DESCRIÇÃO DA FORMAÇÃO CIENTÍFICA Em 1942, no Rio de Janeiro, iniciou o Curso de Especialização em Higiene e Saúde Pública, depois o Mestrado em Saúde Pública no Instituto Oswaldo Cruz. Em 1943, através de concurso, em que foi classificado em 1o lugar, passou a integrar o Quadro Permanente de Médico Sanitarista Federal, do Ministério da Educação e Saúde, até sua aposentadoria ocorrida em 1968. Tendo visitado em 1958, sob os auspícios da Organização Panamericana da Saúde (OPAS), instituições de pesquisa de Portugal, da Inglaterra, da Itália, de Israel e do Quênia. Em 1962, como diretor do Instituto de Medicina Preventiva (IMEP), um instituto modelo para o ensino e a formação em Medicina Preventiva, visitou universidades de Porto Rico, dos Estados Unidos da América, do México, do Panamá, de El Salvador e da Colômbia. Professor em 1947, fez parte do grupo dos médicos fundadores da Faculdade de Medicina do Ceará, pertencente ao Instituto de Ensino Médico, que posteriormente seria federalizada, para formar a Universidade Federal do Ceará (UFC), oficializada em 1954. Morou na Itália, como pesquisador bolsista do Istituto Superiori di Sanità, onde conheceu o Prof. Giovanni Berlinguer, expoente da reforma sanitária italiana. Também trabalhou em Cuba como Oficial Médico da OMS-OPAS, de 1969 a 1971. Aposentou-se como Professor Titular de Parasitologia em 1982 compulsoriamente e trabalhou como professor “voluntário” da UFC, até 1990. DISCUSSÃO SOBRE O LEGADO Núcleo de Medicina Tropical, criado em 1978, foi seu primeiro coordenador, viabilizando a participação do Centro de Ciências da Saúde no Acordo de Cooperação Técnica da UFC com a Universidade de Paris, no Convênio CAPES-COFECUB, que possibilitou a pós-graduação de vários pesquisadores da UFC em serviços franceses e fomentou uma vasta produção científica consorciada, resultando, no surgimento do ensino de Pós-graduação na área de Doenças Tropicais. Dentre as tantas atividades desenvolvidas destacamos a pesquisa às doenças tropicais, como a doença de Chagas, a esquistossomose e a leishmaniose visceral, do que resultou grande produção científica, entre artigos, capítulos de livros e trabalhos em anais de congressos, aproxima-se de duzentas contribuições. Sua primeira publicação foi feita na revista Ceará Médico, em 1940, sob o título A Situação do Problema da Lepra no Ceará; e a sua última aconteceu em 1992, sobre leishmaniose visceral, publicada em colaboração com Richard D. Pearson, da Universidade de Virgínia, nos EUA, no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Há trabalhos que se tornaram clássicos da literatura de Medicina Tropical, como “Calazar Canino: contribuição para o estudo da epidemiologia do calazar no Brasil” (1959); essa obra, sua tese de livre-docência, aprovada com nota 10,0 (dez) de todos os examinadores, trata dos múltiplos aspectos do calazar, permanecendo como valiosa fonte de consulta para estudiosos do assunto, à conta de seu grande valor científico para os que desejam saber mais sobre a doença, dada à enorme amplitude de informações sobre a leishmaniose visceral. Aos 75 anos de idade, escreveu um de seus mais importantes trabalhos: “História Natural da Doença de Chagas no Estado do Ceará” (1987), defendida como tese ao ensejo do concurso para professor titular, mereceu a média 9,99 (nove vírgula noventa e nove centésimos) da banca examinadora. CONSIDERAÇÕES FINAIS ALENCAR fez parte de numerosas associações e órgãos de classe, entre os quais destacamos: Acadêmico Fundador (1978) da Academia Cearense de Medicina, da qual foi seu Presidente nos biênios 1982/1983 e 1983/1984; acadêmico fundador (1976) da Academia Brasileira de Administração Hospitalar; sócio fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, tendo sido o seu Presidente no biênio 1979/1980; sócio fundador e 1o Presidente da Sociedade Brasileira de Parasitologia, cobrindo o período 1963/1965; Presidente do Centro Médico Cearense (atual Associação Médica Cearense), no biênio 1959/1960; e Membro Efetivo da Academia Cearense de Ciências (1986). Recebeu diversas homenagens e condecorações, das quais registramos: Medalha Carlos Chagas, comemorativa do cinqüentenário da descoberta da doença de Chagas, conferida pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1959; Medalha Cultural Gaspar Vianna, em 1962, instituída pelo Ministério da Saúde, em comemoração ao cinqüentenário da descoberta do tratamento das leishmanioses com tártaro emético (antimonial trivalente) por Gaspar Vianna, em 1912; Medalha Cidade de Fortaleza (Boticário Ferreira), concedida pala Câmara Municipal de Fortaleza, em 1982; Medalha da Abolição, a mais alta comenda concedida pelo Governo do Estado do Ceará, outorgada em 1984; Medalha Oswaldo Cruz, a mais importante homenagem do Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, na área da Saúde Pública, em 1993; Medalha Amílcar Barca Pellon, concedida pelo Governo do Ceará, por intermédio da Secretaria da Saúde do Estado, àqueles que prestaram relevantes serviços à Saúde Pública do Ceará, outorgada em 1993. Postumamente homenageado pela UFC, por ocasião da celebração do cinqüentenário da universidade-mater dos estabelecimentos de ensino superior do Ceará, com a Medalha dos 50 Anos. ALENCAR empresta seu nome a uma sala de aula da Escola de Saúde Pública do Ceará, ao Centro de Estudos do Hospital São José e ao Centro Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará. Faleceu em 20 de abril de 1998, aos 86 anos de idade, deixando quatro filhos: Vera, Sérgio e Sívio com Maristela Benevides; e Galileu com Gersina. Foi sobretudo exemplo de dedicação ao trabalho, amor ao Ceará e ao Brasil e devoção à pesquisa científica. BIBLIOGRAFIA ALENCAR, J. E. – Curriculum vitae apresentado ao Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, por ocasião de seu Concurso para Professor Titular de Parasitologia. 1987. ARARIPE, J.C.A. – A Faculdade de Medicina e sua ação renovadora. Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza-CE, 1958. MARTINS, J.M. – Faculdade de Medicina da UFC, Professores e Médicos Graduados. Edição do Cinqüentenário, Imprensa Universitária da UFC, Fortaleza-CE, pag. 1998. SILVA, M.G.C.S. – Joaquim Eduardo de Alencar: o sanitarista-mor do Ceará. Jornal Brasileiro de História da Medicina (ISSN 1516-0386), vol. 12, Suplemento 1, T52, pag. 68, XIII Congresso Brasileiro de História da Medicina, Fortaleza-Ceará-Brasil, 12 a 15 de novembro de 2008. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* Trabalho realizado pelo Projeto de Extensão Preservação de Livros Históricos de Medicina da FM - UFC. XVII Congresso Brasileiro da SBHM, 7 a 10 novembro 2012, São Luiz - Maranhão. ** Professor Adjunto 4, mestre em Patologia/1999, Fac. Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC) *** Professor Titular aposentado, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Av. Rui Barbosa 3274, fone: (85) 3272 2811 e 3272 4054, cel. 9981 8294, e-mail: daryoliveira@walla.com


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS ACERCA DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE MÚLTIPLA.
BARBOSA, B.R.; SOUSA, C.E.A.
Universidade Federal do Piauí – UFPI

Introdução: De acordo com o DSM-IV, o Transtorno de Personalidade Múltipla é um tipo de transtorno dissociativo em que o paciente relata perda total ou parcial de uma função mental, sem que haja uma causa orgânica justificável. Trata-se de um desafio para os psiquiatras em termos de diagnóstico e de tratamento. Objetivo: Fazer um breve relato acerca dos registros históricos documentados sobre o transtorno de personalidade múltipla. Metodologia: Realizou-se uma revisão bibliográfica sistemática nas bases SciELO e CINAHL sobre o tema. Resultados: A existência de casos de personalidade múltipla não é um fato recente. Existem evidências de que certas pinturas rupestres do período Paleolítico relatavam pessoas portadoras do transtorno. No entanto, apenas em 1791, com Eberhardt Gmelin, observou-se o primeiro relato de caso documentado em grande detalhe. Tratou-se de uma mulher alemã de 20 anos de idade, que começou a falar o idioma francês com perfeição e o idioma natural com sotaque francês. Em 1812, Benjamin Rush coletou relatos de casos de pacientes com o transtorno e teorizou a primeira hipótese causal para a patologia: a desconexão entre os dois hemisférios do cérebro. Em 1816, Samuel Mitchel publicou o caso de Mary Reynolds, considerada normal até o final da adolescência quando, com 19 anos, tornou-se cega e surda por seis semanas. Algum tempo depois, após um descanso, Reynolds despertou com nenhuma memória do ocorrido anteriormente, e permaneceu alternando os estados de personalidade até os 30 anos. No final do século XIX, Eugene Azam, publicou a série de relatos de Felida X, paciente que seguiu por mais de 35 anos e que apresentava três personalidades. Depois da massiva documentação até o século XIX, houve um apagão na publicação de relatos de casos acerca do transtorno até que, em 1957, a história de Christine Sizemore foi publicada e depois transformada em filme, o ajudou a popularizar o distúrbio. Em 1980, o DSM-III estabeleceu critérios para diagnóstico e deu legitimidade à condição. Finalmente, em 1994, com o DSM-IV, houve a renomeação do distúrbio para Transtorno Dissociativo de Identidade. Conclusão: Com a intensidade do debate em torno das controvérsias em torno do transtorno e o desenvolvimento de métodos de triagem e diagnóstico, tem havido um progresso contínuo no entendimento do assunto. Apesar disso, ainda existem profissionais das áreas de saúde mental, que continuam a duvidar da legitimidade do Transtorno de Personalidade Múltipla.