Dary Alves Oliveira** & Geraldo de Sousa Tomé ***.
Nasceu no município de Pacatuba, Ceará, em 18 de abril de 1912. Filho de
Galileu Thaumaturgo de Alencar, ferroviário da Rede de Viação Cearense e de
Noeme Eduardo de Alencar, dedicada as prendas do lar. Cursou escola pública em
Fortaleza; o primário no Colégio Nogueira e no VIII Grupo Escolar de Fortaleza,
concluindo o Curso Secundário no Liceu do Ceará em 1928. Ingressou por
vestibular na Faculdade de Medicina da Bahia, em fevereiro de 1929, vindo a
diplomar-se em 08 de dezembro de 1934. Como médico atuou em Rocca Salles, no
município de Lajeado, Rio Grande do Sul em 1935, retornando ao Ceará em 1936,
para trabalhar como taquigrafo da Assembléia Legislativa até novembro de 1937,
quando o golpe de Estado, dado por Getúlio Vargas, fechou todos os parlamentos
brasileiros, e instalou o Estado Novo. Dedicou-se então à clínica médica,
atuando nos municípios de Fortaleza, Redenção e Baturité, tendo, em 1938, sido
médico da Escola de Menores Abandonados e Delinqüentes de Santo Antônio de
Pitaguari, em Fortaleza. Entre 1937 e 1941, lecionou as disciplinas Física,
Química, História Natural e Higiene no Educandário Santa Maria e no Colégio
Santa Cecília, ambos em Fortaleza. Em 1939, passou a atuar como Médico
Sanitarista do Departamento de Saúde Pública do Estado do Ceará, sendo chefe do
Posto de Higiene de Baturité. Em 1940, aos 27 anos de idade, foi nomeado
Diretor do Departamento Estadual de Saúde, cargo mais importante da área da
saúde estadual, sendo exonerado no Governo do interventor Menezes Pimentel,
provavelmente por razões ideológicas política, por ser de esquerda. DESCRIÇÃO
DA FORMAÇÃO CIENTÍFICA Em 1942, no Rio de Janeiro, iniciou o Curso de
Especialização em Higiene e Saúde Pública, depois o Mestrado em Saúde Pública
no Instituto Oswaldo Cruz. Em 1943, através de concurso, em que foi
classificado em 1o lugar, passou a integrar o Quadro Permanente de Médico
Sanitarista Federal, do Ministério da Educação e Saúde, até sua aposentadoria
ocorrida em 1968. Tendo visitado em 1958, sob os auspícios da Organização
Panamericana da Saúde (OPAS), instituições de pesquisa de Portugal, da
Inglaterra, da Itália, de Israel e do Quênia. Em 1962, como diretor do
Instituto de Medicina Preventiva (IMEP), um instituto modelo para o ensino e a
formação em Medicina Preventiva, visitou universidades de Porto Rico, dos
Estados Unidos da América, do México, do Panamá, de El Salvador e da Colômbia.
Professor em 1947, fez parte do grupo dos médicos fundadores da Faculdade de
Medicina do Ceará, pertencente ao Instituto de Ensino Médico, que
posteriormente seria federalizada, para formar a Universidade Federal do Ceará
(UFC), oficializada em 1954. Morou na Itália, como pesquisador bolsista do
Istituto Superiori di Sanità, onde conheceu o Prof. Giovanni Berlinguer,
expoente da reforma sanitária italiana. Também trabalhou em Cuba como Oficial
Médico da OMS-OPAS, de 1969 a 1971. Aposentou-se como Professor Titular de
Parasitologia em 1982 compulsoriamente e trabalhou como professor “voluntário”
da UFC, até 1990. DISCUSSÃO SOBRE O LEGADO Núcleo de Medicina Tropical, criado
em 1978, foi seu primeiro coordenador, viabilizando a participação do Centro de
Ciências da Saúde no Acordo de Cooperação Técnica da UFC com a Universidade de
Paris, no Convênio CAPES-COFECUB, que possibilitou a pós-graduação de vários
pesquisadores da UFC em serviços franceses e fomentou uma vasta produção
científica consorciada, resultando, no surgimento do ensino de Pós-graduação na
área de Doenças Tropicais. Dentre as tantas atividades desenvolvidas destacamos
a pesquisa às doenças tropicais, como a doença de Chagas, a esquistossomose e a
leishmaniose visceral, do que resultou grande produção científica, entre
artigos, capítulos de livros e trabalhos em anais de congressos, aproxima-se de
duzentas contribuições. Sua primeira publicação foi feita na revista Ceará
Médico, em 1940, sob o título A Situação do Problema da Lepra no Ceará; e a sua
última aconteceu em 1992, sobre leishmaniose visceral, publicada em colaboração
com Richard D. Pearson, da Universidade de Virgínia, nos EUA, no American
Journal of Tropical Medicine and Hygiene. Há trabalhos que se tornaram
clássicos da literatura de Medicina Tropical, como “Calazar Canino: contribuição
para o estudo da epidemiologia do calazar no Brasil” (1959); essa obra, sua
tese de livre-docência, aprovada com nota 10,0 (dez) de todos os examinadores,
trata dos múltiplos aspectos do calazar, permanecendo como valiosa fonte de
consulta para estudiosos do assunto, à conta de seu grande valor científico
para os que desejam saber mais sobre a doença, dada à enorme amplitude de
informações sobre a leishmaniose visceral. Aos 75 anos de idade, escreveu um de
seus mais importantes trabalhos: “História Natural da Doença de Chagas no
Estado do Ceará” (1987), defendida como tese ao ensejo do concurso para
professor titular, mereceu a média 9,99 (nove vírgula noventa e nove
centésimos) da banca examinadora. CONSIDERAÇÕES FINAIS ALENCAR fez parte de
numerosas associações e órgãos de classe, entre os quais destacamos: Acadêmico
Fundador (1978) da Academia Cearense de Medicina, da qual foi seu Presidente
nos biênios 1982/1983 e 1983/1984; acadêmico fundador (1976) da Academia
Brasileira de Administração Hospitalar; sócio fundador da Sociedade Brasileira
de Medicina Tropical, tendo sido o seu Presidente no biênio 1979/1980; sócio
fundador e 1o Presidente da Sociedade Brasileira de Parasitologia, cobrindo o
período 1963/1965; Presidente do Centro Médico Cearense (atual Associação
Médica Cearense), no biênio 1959/1960; e Membro Efetivo da Academia Cearense de
Ciências (1986). Recebeu diversas homenagens e condecorações, das quais
registramos: Medalha Carlos Chagas, comemorativa do cinqüentenário da
descoberta da doença de Chagas, conferida pela Universidade Federal de Minas
Gerais, em 1959; Medalha Cultural Gaspar Vianna, em 1962, instituída pelo
Ministério da Saúde, em comemoração ao cinqüentenário da descoberta do
tratamento das leishmanioses com tártaro emético (antimonial trivalente) por
Gaspar Vianna, em 1912; Medalha Cidade de Fortaleza (Boticário Ferreira),
concedida pala Câmara Municipal de Fortaleza, em 1982; Medalha da Abolição, a
mais alta comenda concedida pelo Governo do Estado do Ceará, outorgada em 1984;
Medalha Oswaldo Cruz, a mais importante homenagem do Governo Federal, por meio
do Ministério da Saúde, na área da Saúde Pública, em 1993; Medalha Amílcar
Barca Pellon, concedida pelo Governo do Ceará, por intermédio da Secretaria da
Saúde do Estado, àqueles que prestaram relevantes serviços à Saúde Pública do
Ceará, outorgada em 1993. Postumamente homenageado pela UFC, por ocasião da
celebração do cinqüentenário da universidade-mater dos estabelecimentos de
ensino superior do Ceará, com a Medalha dos 50 Anos. ALENCAR empresta seu nome
a uma sala de aula da Escola de Saúde Pública do Ceará, ao Centro de Estudos do
Hospital São José e ao Centro Acadêmico do Curso de Medicina da Universidade
Estadual do Ceará. Faleceu em 20 de abril de 1998, aos 86 anos de idade, deixando
quatro filhos: Vera, Sérgio e Sívio com Maristela Benevides; e Galileu com
Gersina. Foi sobretudo exemplo de dedicação ao trabalho, amor ao Ceará e ao
Brasil e devoção à pesquisa científica. BIBLIOGRAFIA ALENCAR, J. E. –
Curriculum vitae apresentado ao Departamento de Patologia e Medicina Legal da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, por ocasião de seu
Concurso para Professor Titular de Parasitologia. 1987. ARARIPE, J.C.A. – A
Faculdade de Medicina e sua ação renovadora. Imprensa Universitária do Ceará,
Fortaleza-CE, 1958. MARTINS, J.M. – Faculdade de Medicina da UFC, Professores e
Médicos Graduados. Edição do Cinqüentenário, Imprensa Universitária da UFC,
Fortaleza-CE, pag. 1998. SILVA, M.G.C.S. – Joaquim Eduardo de Alencar: o sanitarista-mor
do Ceará. Jornal Brasileiro de História da Medicina (ISSN 1516-0386), vol. 12,
Suplemento 1, T52, pag. 68, XIII Congresso Brasileiro de História da Medicina,
Fortaleza-Ceará-Brasil, 12 a 15 de novembro de 2008.
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* Trabalho realizado pelo Projeto de Extensão Preservação de Livros
Históricos de Medicina da FM - UFC. XVII Congresso Brasileiro da SBHM, 7 a 10
novembro 2012, São Luiz - Maranhão. ** Professor Adjunto 4, mestre em
Patologia/1999, Fac. Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC) ***
Professor Titular aposentado, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do
Ceará Av. Rui Barbosa 3274, fone: (85) 3272 2811 e 3272 4054, cel. 9981 8294,
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