Páginas

sábado, 25 de maio de 2013

SÉRIES HISTÓRICAS DE PREVALÊNCIA DA HANSENÍASE E RISCO DE INFANTILIZAÇÃO NO NORDESTE AMAZÔNICO

RIOS, L. C. L.; PACHECO, M. A. B.
Universidade Ceuma – UNICEUMA
 
A prevalência da Hanseníase no Nordeste Amazônico, Estado do Maranhão, se destaca em dados de notificação, preocupando quando atinge a faixa etária ≤15 anos. Esta detecção indica focos de infecção ativos e transmissão recente, o que exige vigilância resolutiva. O Estado apresenta tendência decrescente mais tardia, estatisticamente significativa para as séries temporais. Embora considerada doença de adulto pelo longo período de incubação (2 a 7 anos), crianças também são suscetíveis com risco de acometimento. Objetivos. Analisar o perfil epidemiológico da Hanseníase no Nordeste Amazônico durante uma década, determinando a prevalência da doença na capital do Estado do Maranhão, relacionando a variável idade com as variáveis: sexo, forma clínica, classificação operacional e grau de incapacidade. Metodologia. Estudo descritivo e retrospectivo incluindo casos diagnosticados entre 2001 e 2010, cadastrados na Superintendência de Vigilância Epidemiológica do Estado, analisando-se as variáveis: idade; sexo; forma clínica; classificação operacional e grau de incapacidade. A variável idade foi categorizada em dois grupos: > 15 anos e ≤ 15 anos. RESULTADOS. Relacionando com a variável classe operacional, a forma multibacilar prevaleceu nos dois sexos, masculino (36,80%) e feminino (22,4%), na categoria > 15 anos. Mesma classe operacional foi apontada com maior prevalência em homens (3,4%) na categoria ≤ 15 anos. Quanto ao grau de incapacidade, a faixa etária maior foi a mais afetada, com homens (25,7%) e mulheres (26,9%), no grau zero, semelhante para faixa etária menor (4,2%), no sexo masculino. A forma clínica prevalente foi dimorfa, na faixa etária maior (15,5%, homens e 27,1%, mulheres), divergindo do encontrado na faixa etária menor, homens, na mesma forma clínica (2,6%). Conclusão. Estudo revela a prevalência da Hanseníase na capital do Estado do Maranhão, na forma clínica grave multibacilar dimorfa, faixa etária > 15 anos, sem grau de incapacidade. Houve importante decréscimo na faixa etária menor, a despeito de registros maiores sustentados no sexo masculino, em multibacilar dimorfa. Constata-se tendência de estabilização da Hanseníase, refutando risco de infantilização.

terça-feira, 21 de maio de 2013

OS HOSPITAIS MEDIEVAIS: Uma análise da estrutura e funcionamento.

CARNEIRO, P. H. L.; PIRES, V. P.

Universidade de Brasília – UnB

 Introdução: Embora ainda hoje a Idade Média seja considerada por muitos como uma era de descaso técnico e superstição exagerada, na historiografia atual há uma tendência em demonstrar o outro lado deste período, do qual surgiram dentre outras instituições, as universidades e o modelo hospitalar semelhante ao atual. Hospitais como o Pantocrator em Bizâncio, o de São João em Jerusalém, o Hotel Dieu em Paris, e o Real Hospital de Belém em Londres, aparecem como um contraponto ao argumento da falta de profissionalização e renegação das técnicas médicas nos períodos do medievo cristão. Objetivos: O objetivo deste trabalho é demonstrar através de relatos e documentos sobre como funcionavam as instituições hospitalares medievais, exemplificadas pelo Hospital de São João de Jerusalém, o Hotel Dieu em Paris, o Real Hospital de Belém em Londres, e do hospital oriental do Cristo Pantocrator em Constantinopla, bem como analisar o tratamento preconizado nestes locais. Método: Foram analisados livros históricos e revisão de artigos do banco de dados da CAPES, encontrados por mecanismos de busca via PubMed e Google Scholar. Os dados foram analisados, selecionados e confrontados para formulação do texto do trabalho original. Resultado: Essa revisão histórica destaca alguns hospitais do baixo medievo oriental, mas, sobretudo ocidental. Demonstra também a perícia médica e as técnicas utilizadas no referido período, bem como uma visão geral das instalações e o serviço prestado por outros funcionários responsáveis pela manutenção do hospital. Também se destaca aqui o contexto histórico, importante para entender o desenvolvimento dos hospitais durante este período controverso da história, demonstrando que os hospitais foram estruturas a frente do seu tempo. Conclusão: Os hospitais, bem como as universidades e outras instituições desenvolvidas no período demonstram o contrário do que o senso em comum tende a inferir sobre a Era Medieval. Os hospitais surgem através de um intercâmbio entre caridade cristã e diversas experiências de culturas do mundo então conhecido, favorecendo o desenvolvimento de instalações e técnicas ainda hoje úteis ao serviço médico. Conhecer a história da origem dos hospitais é importante para o profissional da saúde por se entrelaçar com a história da sua profissão, e também por ser fonte de reparação de injustiças históricas, causadas por um senso comum enviesado.
Anais do Congresso Brasileiro de História da Medicina e I Congresso Maranhense de História da Medicina.

TAUNAY: Contribuição à Ciência


ASSIS, C.M. DE & RODRIGUES, M.C.

Centro de Parasitologia e Micologia, Instituto Adolfo Lutz, Dep. Patologia, FM, USP, São Paulo, Brasil.

 

Augusto de Escragnolle Taunay (1912-2000) nasceu em São Paulo. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP em 1936. Ingressou no Instituto Adolfo Lutz em 1937, onde exerceu diferentes cargos e funções como Médico, Biologista, Chefe de Seção, Diretor Técnico, Diretor Geral, Pesquisador Cientifico do Estado de São Paulo, e Professor de Microbiologia da Faculdade de Farmácia e Odontologia de São José dos Campos, onde se doutorou em 1967. Obteve afastamento para estágios, estudos, cursos, especializações, reuniões, sessões, jornadas, semanas científicas, simpósios, seminários, congressos regionais, nacionais e internacionais, apresentando trabalhos como palestrante, debatedor e conferencista, no Brasil, EUA e Uruguai. Participou de comissões internas e externas à Instituição. Como atividades docentes foi professor e orientador em diferentes cursos, instituições e carreiras, para bolsistas, alunos de especialização, de mestrado e de doutorado, e também em bancas de concurso e defesa de teses. Desenvolveu estudos em doenças parasitárias como verminoses, protozooses, amebíases, febre tifoide, infecções enterobacterianas, urinárias, septicemia, meningites e tuberculose. Em epidemiologia verificou incidência das verminoses, protozooses, bacteriúria em nefropatias; prevalência de agentes microbianos e ocorrência, etiologia e letalidade das meningites. Os agentes mais estudados foram Shigella alkalescens, Shigella dispar, Shigella paradysenteriae, E. coli, Salmonella cholerae suis, var. Kunzendorf, Salmonella grumpensis e Neisseria meningitidis do grupo C. Como métodos de estudo destacam-se mielo cultura, mielograma, reação de Widal, aglutinação em lâmina, fixação do complemento, flora bacteriana do jejuno, meios de cultura, tipagem de Salmonella, colheita de material, cultura de urina qualitativa e quantitativa, avaliação quantitativa da leucocitúria em indivíduos normais e imunoeletroforese cruzada em acetato de celulose. Teve seus trabalhos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Recebeu auxílio para desenvolvimento de pesquisas, e prêmios. Na epidemia meningocócica de 1972, caracterizou o agente, estabeleceu seu comportamento frente a quimioterápicos e implantou programa de pesquisa em colaboração com o National Institute of Health. Taunay através de seus estudos científicos contribuiu principalmente para o desenvolvimento da Bacteriologia e Epidemiologia de doenças infecciosas no Brasil e exterior.
Anais do XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina e I Congresso Maranhense de História da Medicina.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

VALORIZAR O PASSADO PARA COMPREENDER O PRESENTE.

Natalino Salgado Filho,

AMM, AML, Membro da Soc. Maranhense de H. Medicina.

Por uma dessas coincidências da vida sobre as quais muitas vezes não temos explicações, deparei-me recentemente com a descoberta do artigo de dom José Medeiros Delgado, intitulado A Cidade Universitária, publicado no Jornal do Maranhão, em 7 de agosto de 1960. A coincidência é o fato de que, em 29 de janeiro de 2012, publiquei, aqui mesmo em O Estado do Maranhão, um texto justamente intitulado Cultura Universitária x Cidade Universitária, no qual tratava do momento auspicioso que vive a Universidade Federal do Maranhão, renovada em seus ideais de bem servir a comunidade na qual está inserida, entendida hoje no conceito real de Cidade Universitária.

Quando da publicação de meu artigo, discorri sobre o aumento dos cursos de graduação, especialização, mestrados e doutorados; ainda sobre a política atuante de interiorização dos cursos em parceria com o governo do Estado e prefeituras, reconhecendo a vocação de cada região desse nosso grandioso Maranhão; o incremento nas obras físicas no Campus e nos Campi, bem como o crescente número de eventos, parcerias, projetos realizados e, com especial destaque para a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, que será realizada de 22 a 27 de julho de 2012, em São Luís, como parte da programação dos 400 anos de fundação da cidade, que adotou como tema Ciência e Cultura: Saberes Tradicionais para enfrentar a pobreza.
Para aqueles que ainda não conhecem a figura emblemática de dom José Medeiros Delgado, trata-se de um homem visionário, apaixonado pelas letras e pelas ciências e que veio para cá em 1951, quando assumiu o Arcebispado e aqui ficou até 1963, quando foi transferido para Fortaleza. Dom Delgado figurou entre os mais importantes intelectuais da época que lutaram para que o Maranhão tivesse sua universidade. Muitos são os seus feitos e seu legado de dedicação e desvelo em prol do conhecimento. Para um reconhecimento ainda maior, informo que estamos trabalhando para resgatar essa história e assim prestar uma justa e merecida homenagem a pessoas que, como ele, abraçaram a causa do conhecimento e sonharam um dia em legar uma universidade às outras gerações.
Ao ler o artigo de dom Delgado, pude vislumbrar ecos proféticos, principalmente quando ele afirma que “A Cidade Universitária (...) terá de consumir uns 50 anos de trabalho. Alguns Arcebispos passarão pelo Maranhão. Isto a terceira geração, a contar d’agora, virá contemplá-la realizada”.
Em 2012, passados 52 anos de suas palavras, a profecia alcança seu real cumprimento, pois a Cidade Universitária é hoje uma feliz realidade para milhares de pessoas que um dia entraram por aquelas portas e saíram graduados, mestres, doutores e para aqueles que ainda estão trilhando esse caminho. E isso sem contar com diversas ações empreendidas para a melhoria e engrandecimento da sociedade maranhense.
Dom Delgado, à sua época, também enfrentou diversas dificuldades e oposições, mas preferiu falar de fé e perseverança, numa lição que se sobrepõe a qualquer época ou geração, como ele mesmo destaca: “Para os Bispos, dignos dêste nome, o imediatismo não é a grande fôrça. A História os mede pela perseverança. Nenhum deles vive exclusivamente do presente, crescem alimentados pela esperança. O futuro instala-se dentro de seus corações, comunicando-lhes um poder que os descrentes desconhecerão e os sonhadores apenas vislumbram. É daí que vem a fôrça dos que não possuem armas materiais”.

Talvez dom Delgado sequer imaginasse como o sonho iria realizar-se ou qual seria sua exata dimensão. Ao falar de Cidade Universitária, apontava para algo que à época poderia ser entendido por um mero devaneio, mas que ele escolhera como missão de vida, sem contudo deixar de se questionar dos espinhos da árdua tarefa: “Quantos adubarão a terra com a ruina de corpos mortais até que tanto se faça? Quais os que morrerão espiritualmente durante a peleja? Quem escolherá imortalizar-se por feitos gloriosos na execução do magnífico projeto? Só Deus saberá responder a tais indagações (...) O filho de Deus deve sonhar inclusive com a Cidade Universitária”.

Com certeza inspirado pelo mandamento bíblico dos evangelhos que afirma que “Tudo é possível ao que crê”, dom Delgado estimulou gerações de homens e mulheres a atenderam ao chamado de construir a Cidade Universitária. Essa menção a esse episódio é importante, pois valorizar o passado também é uma forma de compreender o presente. O desafio de sonhar algo inovador nunca foi fácil e mais difícil ainda trabalhar na realização desse sonho, mas com determinação e coragem é possível transpor todos os obstáculos. Que a voz profética de dom Delgado nos inspire a continuar na busca da perfeição e que outras gerações não apenas conservem o que já conquistamos, mas trabalhem na evolução dessa conquista.
Doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, ACM e AMC