Aymoré Alvim, médico;
professor universitário. AMM, SMHM e IHGM.
São
Luís sediou, no período de 26 a 28 de novembro passado, o II Congresso
Maranhense de História da Medicina. Regular presença de alunos dos cursos de
Medicina, poucos de outras áreas da saúde e quase nenhum de outros cursos fora
do que chamamos de campo da saúde. E médicos? Ah!, esses? Muito raros. Mas eles
não têm culpa da formação tecnicista ou cartesiana que o Sistema impingiu à
nossa formação. Por isto, resolvi escrever este artigo.
Primeiramente,
busquemos saber do que se trata. É uma ciência, ramo da História Geral, que
estuda a saúde e a doença, na sua dimensão histórica e espacial, com vista à
promoção, prevenção e cura, ou seja, promover e restabelecer o prazer de viver,
dilatando, nas palavras de Botelho, J. B., os limites da vida. Não é isso que
todos queremos?
Ora,
se a promoção do bem-estar e a prevenção da dor ou doença são os objetivos de
todos nós que gostamos de viver bem e por muito tempo, logo o conhecimento desses
valores através das sucessivas civilizações que encontramos na História da
Medicina justifica ser ela do interesse de todas as pessoas que fazem isto
diariamente sem se aperceberem.
Enganam-se,
pois, os que pensam que Medicina é apenas uma prática de cura, monopólio dos
médicos. A Medicina, desde os primórdios, é a busca do prazer de viver, do
bem-estar para onde converge todo o conhecimento que o homem (Homo, inis =
pessoa, sem preconceito de gênero ou sexo), vem produzindo ao longo da sua
história
Por
exemplo, a Arquitetura e a Engenharia quando projetam ou executam uma
construção residencial buscam, antes de tudo, a salubridade ambiental, verificando
incidência de raios solares, de correntes de vento, produção de ruídos, de
forma a proporcionar ao cliente uma moradia num ambiente saudável. Isto não é
promover e preservar a saúde? Logo, estão fazendo Medicina.
Tomei
esses dois exemplos, que a princípio parecem distantes do que chamamos de arte
de curar, para mostrar que a História da Medicina, que traz os fundamentos
desses conhecimentos, é de interesse geral, independente de profissão ou campo
de trabalho.
Mas
isto tudo tem uma razão lógica. Não são apenas elucubrações elaboradas em
noites de vigílias. Senão vejamos: O homem, segundo estudos científicos
conduzidos pela Paleoantropologia, quando começou a raciocionalizar e
questionar a sua existência, isto é, a perceber o seu lugar e a sua importância,
no ambiente onde vivia por volta de 40.000 a 50.000 anos atrás, as suas
primeiras preocupações se voltaram para duas ações específicas: afastar a dor
ou doença que o incomodava e por isso queria saber a sua origem para buscar a
cura de seus males. Para isto, teve que transcender e encontrar nas divindades
a causa dos seus sofrimentos. Criou, assim, a Religião.
Sabendo
a origem, buscou a solução e a proteção do seu prazer de viver, nas invocações
às divindades e com uso de material biológico e químico retirados da natureza.
Estava criada a Medicina ou a Arte de Curar.
Como
vemos, Medicina e Religião nasceram juntas, são irmãs gêmeas. Uma na
dependência da outra. São comportamentos humanos que nortearam todo o processo civilizatório
ao longo do tempo. Com elas o homem se organizou em grupos, tribos, famílias e
nações. Ambas estão no cerne da nossa cultura.
Logo,
conhecer Religião e Medicina ou Medicina e Religião é conhecer o próprio homem,
na sua saga através da história.
Atualmente,
a Medicina tem envolvido cada vez mais o paciente, no cenário de cura. A
hegemonia histórica do médico, que ainda persiste em graus variados, vai
cedendo lugar à decisão do paciente, na condução do seu processo de cura. Em
decidir o que melhor lhe aprouver.
Outro
modelo que vem demonstrando isto é o já conhecido Medicina Baseada em
Evidências. A velha e propalada experiência clínica deve se apoiar em
evidências fundamentadas em provas científicas. Isto me faz lembrar que o
antigo médico, curandeiro dos tempos pré-históricos, que funcionava como o mediador
entre os doentes e os deuses, volta ao mesmo papel como o pontífice entre o seu
paciente e a ciência.
Isto em nada lhe diminui a
responsabilidade de condutor do processo, mas nos mostra como a crescente
participação do paciente vem evoluindo,
ao longo do tempo, como descreve a História da Medicina, o que também fortalece
a ideia de que seu estudo é de interesse de todas as pessoas.
Portanto, volto
a lhes perguntar: A quem interessa, então, o estudo ou o conhecimento da
História da Medicina? Como vimos, o que nela contem é do interesse de todos sem
exceção, independente de confissões e profissões.
Isto
é o que eu penso. Você que está lendo este artigo pode até não concordar
comigo, mas que vai achar tudo isto bem racional, tenho certeza que vai.
Excelente texto!
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