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terça-feira, 18 de junho de 2013

MÉDICOS ESTRANGEIROS PARA QUE?

ALDIR PENHA COSTA FERREIRA.   AMM, SMHM.

 Um dos assuntos em voga no Brasil, no momento, é a “importação” de médicos estrangeiros. Mais do que isso, aparentemente querem que eles exerçam a profissão no nosso país sem a apreciação de seus currículos pelas entidades fiscalizadoras, no caso o Conselho Federal e os Estaduais de Medicina. Isso é péssimo! Nem aos filhos da terra se concede tal privilégio!

Dias atrás, numa entrevista de televisão, um cidadão das altas esferas deu a impressão de ser um daqueles que, num gabinete climatizado, enchem a cabeça de estatísticas e passam a ditar normas para o Brasil inteiro. Sou capaz de afirmar, com todo respeito, que referido cidadão – e, provavelmente, os que advogam a vinda dos médicos estrangeiros para o Brasil – não conhece a nossa realidade, especialmente o interior do Nordeste. Confunde Campinas, por exemplo, com municípios do interior do Maranhão, e cita estatísticas da Inglaterra – que está, em condições de trabalho para os médicos, a anos-luz de distância de nós -, para justificar as suas convicções.

Essas pessoas deveriam conhecer para poder falar. Ir ao interior, circular pelas nossas cidades, percorrer as trilhas no lombo de burros, ver a pobreza das palhoças, sentir a dor das promessas não cumpridas e a decepção de ter contribuído para a eleição de certos líderes.

As precariedades do meio se refletem nas condições de trabalho dos médicos. É comum ver-se – não só no Maranhão – o modo deficiente como funcionam muitas unidades de saúde. Construir é mais fácil do que fazê-las funcionar e mantê-las. O médico, como profissional, é limitado por essas deficiências.

Um dos tópicos abordados pelo cidadão da entrevista foi o tempo necessário para a formação de um especialista médico. Deu como exemplo um neurologista que, após os seis anos do curso regular, necessita de mais cinco para a pós-graduação. Tudo bem, mas faltou dizer que, para se manter na crista da onda, o médico tem que estudar por toda a vida, dentro ou fora de uma universidade. O esforço tem que ser contínuo, e os onze anos citados são apenas o começo.

Não é só isso. Infelizmente não é só isso. Dias atrás, a televisão mostrava um motorista do Senado que recebe por mês nada menos que R$21.000,00. Isso soa como uma zombaria para a classe médica, principalmente de São Luís, pois é quase seis vezes o salário de um médico da nossa prefeitura! E mais: duvido que alguém, trabalhando exclusivamente como médico assalariado no interior, receba os polpudos vencimentos que andam apregoando por aí. Sou capaz de afirmar que nem os prefeitos – sim, os prefeitos! – limpo, limpo, recebem isso.

Tempos atrás uma pesquisadora da UFMA falava de um trabalho que fizera junto a médicos de São Luís. Dizia, dentre outras coisas, da sua surpresa para a resposta que muitos deram ante a pergunta: “O que o senhor faz nos momentos ociosos, como lazer?” A maioria respondeu: “Dormir”. A conclusão foi que eles aproveitam tais momentos para descansar. Preferem permanecer na Capital, onde as condições de trabalho são menos ruins, mesmo sendo mal pagos e tendo que trabalhar em dobro. 

A “importação” de médicos estrangeiros tem um cheiro de manobra escusa. Faz supor a existência outros interesses. A UFMA, só para citar um exemplo, forma em média 50 novos médicos por ano. Deem-lhes condições de trabalho e salários dignos, que eles estarão onde for necessário.

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